Falta de monitores deixa estudantes fora das aulas em escola de Santa Maria

Falta de monitores deixa estudantes fora das aulas em escola de Santa Maria

Foto: Eduardo Ramos (Arquivo Diário)

Santa Maria conta com 890 alunos com deficiências matriculados na Rede Municipal de Ensino

Um problema recorrente na educação pública nos últimos anos vem se agravando na Rede Municipal de Ensino de Santa Maria. Escolas apontam a falta de monitores para auxiliar os professores da Educação Infantil.


Para os alunos incluídos, público-alvo da Educação Especial, a situação é ainda mais crítica. Em algumas escolas, as crianças não estão frequentando as aulas no tempo regular devido à falta dos monitores que os auxiliam na locomoção, alimentação e ajudam ainda na mediação e organização dos conhecimentos passados pelos professores, além do cuidado durante o recreio, por exemplo.


+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp


Segundo a Secretaria Municipal de Educação (Smed), Santa Maria conta com 890 alunos com deficiências matriculados da Rede Municipal de Ensino, conforme apontamento prévio realizado em abril deste ano pela Coordenação de Educação Especial/Smed.

 
Na cidade, os monitores são alunos do Ensino Médio e Ensino Superior, contratados em regime de estágio. A remuneração é de R$ 6 a hora para os estudantes do Ensino Superior e R$ 5 para os do Ensino Médio. A rede de ensino quase não oferece algum tipo de formação especializada a esses estudantes que se dispõem a ser monitores.


A Secretaria de Educação conta com 614 estagiários, porém, nem todos são monitores em escolas. O perfil deles se dá de acordo e atendendo aos requisitos da lei do estágio, tanto no âmbito federal quanto no âmbito municipal. A seleção leva em conta a natureza das atividades para que se faça a contratação destes profissionais.



Apenas dois dos 13 alunos da Educação Especial da E.M.E.F. Sérgio Lopes, no Bairro Renascença, contam com apoio de estagiáriosFoto: Nathália Schneider (Arquivo Diário)


NA EMEF SÉRGIO LOPES


Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Sérgio Lopes, no Bairro Renascença, apenas dois dos 13 alunos, que têm o direito ao acompanhamento integral de um monitor, contam com o apoio do estagiário. 


Conforme a diretora da instituição, Andreia Schorn, entre os principais entraves para a ausência dos mesmos estão a baixa remuneração e a falta de formação, o que dificulta a permanência dos monitores na escola.

 
– Não temos como atender adequadamente nesse momento. Já estamos no teto, a educadora especial e nós, professores e direção, também temos um limite. Faço um apelo para que os interessados se candidatem às vagas. Aqui na Sérgio Lopes, faltam 11 pessoas para apoio a essas crianças, ou seja, elas não têm seus direitos assegurados.

 
A vice-diretora Ana Paula Postal, responsável pelos trâmites dos estágios, completa:

 
– Nós fizemos uma força-tarefa, divulgamos na rádio e conseguimos candidatos. Até temos vagas, mas faltam os interessados e, também, no caso dos alunos que frequentam a escola em tempo integral, a situação é ainda mais difícil. Eles precisam dar apoio para o professor em sala, alguns precisam fazer a troca de fralda, auxílio de locomoção pela escola. O valor, no mês, muitas vezes nem chega a R$ 600, então eles acabam migrando para outros lugares e nós ficamos sem o profissional.


ATENDIMENTO

Conforme a diretora, é bastante complexo o atendimento de uma criança que necessita de assistência. É necessário ter formação, conhecimento sobre o transtorno ou a deficiência que aquela criança tem e do tipo de apoio que ela necessita. Acima de tudo, precisa de tempo, uma vez que as crianças não se adaptam de uma hora para a outra com o monitor.

 
Tem crianças que nem estão indo às aulas. Elas precisam de apoio integral. Alguns têm ido parcialmente, porque mobilizamos a equipe da escola para tentar acompanhar. Alguns estão à espera do monitor chegar para ir à escola – conta Andreia.


Foto: Marcelo Oliveira (Arquivo Diário)


Segundo ela, a situação se repete nas demais escolas da Rede Municipal. Andreia Schorn também aponta que o assunto já foi debatido na Câmara de Vereadores e, frequentemente, nas reuniões de diretores de escolas:

 
– Se os profissionais formados não têm uma receita para seguir, eles aprendem junto com as crianças, imagine quem não é formado. Até porque é muito raro vir alunos do curso de Educação Especial. Temos de outras licenciaturas e de Ensino Médio. Nem sabemos se aquela pessoa é disposta. Mas ela faz o que consegue. Acredito que não necessitaria ser somente da Educação Especial. Alunos da Arte, Educação Física, Pedagogia fazem um bom atendimento. Mas é necessário a formação.

 
Na opinião dela, uma das soluções seria a valorização dos monitores, que fidelizaria alguém à escola e aos alunos, atraindo também mais candidatos para as vagas.

 
– Infelizmente, pela segurança das crianças, em alguns casos, encerramos o atendimento ou fazemos pela metade. Nós conversamos com a família e explicamos que não é falta de vontade – finaliza a vice-diretora Ana Paula Postal.


“Desde o início do ano estamos nessa correria sem fim”, relata mãe de aluno


Um dos estudantes da EMEF Sérgio Lopes que necessita de atendimento integral de um monitor é o pequeno Anthony Santos Cavalheiro, 3 anos. Ele está no Maternal 1, sem o acompanhamento desde o início do ano. Com o esforço da equipe da escola, o filho da doméstica Thyellen Santos Maia, 33 anos, e do militar Mykael Cavalheiro, consegue permanecer parte do período integral na escola. Mas, às 15h, um transporte escolar particular já o leva de volta para casa, no Bairro Boi Morto. 

 
Segundo a família, o neurologista afirmou que Anthony tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) grau 2. Ele não fala, então o desenvolvimento das habilidades sociais e motoras na escola seria fundamental para a evolução.


Mykael e Thyellen aguardam monitor, desde o início do ano, para que o filho Anthony, de 3 anos, possa permanecer mais tempo dentro da escolaFoto: Bernardo Abbad (Diário)


Conforme Thyellen, isso impacta muito na rotina da casa e da família. Os pais trabalham fora grande parte do dia e ela conta com o apoio da cunhada gestante para auxiliar nos cuidados do pequeno e dos outros filhos: Mirella, Millena, Antonnia e Lucas. As mais velhas também ajudam no cuidado de Anthony assim que ele chega em casa, sendo que os pais só retornam de três a quatro horas depois.

 
– Ele precisa de atenção total, mas eu também tenho outros filhos. Ele corre, pisa em formigueiro e não sente dor, por exemplo. Não conseguimos dar conta dos afazeres de casa. Desde o início do ano estamos nessa correria sem fim. Já falei com a secretaria, mas me informaram que é um problema geral, que iriam mandar alguém, mas não chegou ainda – explica.

 
Ela também pede que o trabalho seja prestado por monitores especializados ao invés de estudantes estagiários, como é oferecido pelo município.

 
– Penso que deveria aumentar a remuneração, pelo menos, para que eles tivessem um incentivo para ficar. E também deveria ser uma pessoa especializada. O Anthony come lápis de cor e outras coisas, por exemplo, tem que ter uma pessoa altamente capacitada para acompanhá-lo na escola – finaliza Thyellen.


O QUE DIZ A Smed

  • Questionada sobre a possibilidade de ações para reverter a situação, a Smed apontou que está em fase de estudos para firmar parcerias em busca da qualificação da formação e seleção dos monitores. A Coordenação de Educação Especial atenta para o fato de que nem todos os estudantes precisam de estagiário. É a escola que, percebendo a necessidade, faz a solicitação;
  • Sobre a remuneração dos estagiários, há a perspectiva de reajuste dos valores, contudo, é uma decisão que impacta em despesa. Ainda de acordo com a SMEd, está sendo aguardado o fechamento do segundo quadrimestre e redução no percentual de despesa com pessoal para o prosseguimento da pauta.


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Em comemoração ao dia das crianças, Royal Plaza Shopping conta com programação especial em Outubro Anterior

Em comemoração ao dia das crianças, Royal Plaza Shopping conta com programação especial em Outubro

Os detalhes das 49 vagas do novo concurso da Ebserh para o Husm e outras 5 notícias Próximo

Os detalhes das 49 vagas do novo concurso da Ebserh para o Husm e outras 5 notícias

Geral